QUIRON

     Quiron.

     

     Rei centauro, amigo de Hércules e preceptor dos Reis e Heróis da Antiga Grécia, é Imortal. Por acidente e acaso é ferido na perna com uma flecha do seu amigo Hércules, embebida no sangue da Hidra de Lerna, um veneno absoluta e totalmente mortal.

     

     A exposição e combinação de um ser que é imortal com um veneno radicalmente mortal, produz uma ferida impossível de ser curada e resulta em um sofrimento imenso, sem nenhuma esperança de que possa algum dia ou de alguma forma vir a ser superado.

     

     Esta vivência, inesperada para Quiron o centauro imortal, irá com o tempo conduzi-lo pela observação e reflexão à uma compreensão sobre o sofrimento dos homens mortais e também até a compaixão pelo seu estado.

     

     O sofrimento de um se torna análogo ao sofrimento do outro.

     

     O acaso e a dor identificam o imortal com o mortal e fazem nascer a compaixão e a compreensão.

     

     Será a partir daí que Quiron irá começar a ensinar aos homens formas para minorar, suportar e atravessar seus sofrimentos:

     

     A velhice, a doença, o sofrimento, a dor e a morte batem em todas as portas.

     

     A resiliência, a reflexão e a ação ponderada são as chaves da existência, pontos de ancoragem das narrativas que constituem uma vida.

     

     Quiron é o primeiro e o Arquétipo do Terapeuta: aquele que auxilia a enfrentar e atravessar, rumo a um bom fim, as dores da vida e da existência.

     

     Um Terapeuta, portanto, jamais será diferente ou melhor do que aqueles que ele auxilia, posto que seu auxílio sempre estará enraizado nas lides dele mesmo com suas próprias dores.

     

     Um Terapeuta de fato é aquele que é ferido, e ferido, não se entrega à dor, resiste, reflete, atua e constrói a si mesmo se apropriando e usando a dor como auxílio e alavancagem, resiliente, compreende o sofrimento do Outro, compreensivo, realiza a compaixão e o ato terapêutico, sem qualquer pieguice, entrega ou confusão desrespeitosa.

     

     Um terapeuta ocupa um lugar perigoso que Quiron manifesta:

     

     Homem e animal, imortal e mortal, ferido e saudável, sofrido e reflexivo.

     

     O arquétipo é sobretudo sozinho.

     

     Sozinho ele percebe a dimensão do outro e evita a Solidão.

     

     Sozinho, mas não solitário, ele realiza a Si na compreensão do Outro, com quem construirá a comunidade.